Considerada a Rainha das nozes, a macadâmia é de origem australiana. O Espírito Santo ocupa o posto de segundo maior produtor da noz do país
A macadâmia, conhecida também como a Rainha das nozes, por seu sabor inconfundível, ganha cada vez mais espaço no mercado nacional e internacional. Em 2018, o Espírito Santo foi responsável pela produção de aproximadamente 1.800 toneladas de macadâmia, em uma área plantada de 1.000 hectares da noz, concentrada no município de São Mateus, no Norte do estado.
Esse número, de acordo com a Associação Brasileira de Noz de Macadâmia (ABM), coloca o Estado em segundo lugar no ranking nacional e representa 31% da produção do país, ficando atrás apenas de São Paulo, responsável por 33% da produção brasileira. Em todo Brasil já são 6.500 hectares cultivados com esse produto.
Há 30 anos, a família de Italo Bonomo resolveu investir na macadâmia. São 110 hectares cultivados nos Km 16 e 23 da BR 381, que liga os municípios de Nova Venécia e São Mateus. Para Italo, além de diversificar a produção, o investimento em macadâmia foi um bom negócio. ”Em termos de lucro por hectare, se parece bem com o retorno do café. A vantagem que vejo é que a macadâmia precisa de menos mão de obra que o café e sua atividade pode ser mecanizada quase que em sua totalidade, diferente do café, e também ajuda a diversificar a propriedade”, explica o produtor. Além da macadâmia, Italo cultiva ainda café conilon e pimenta-do-reino.
O presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Noz Macadâmia (Coopmac), Eliseu Bonomo, pai de Italo, lembra que “o mercado não se restringe apenas à venda da semente para consumo in natura, também é possível agregar valor a ela e transformá-la em diferentes produtos cosméticos e em diversos alimentos”. Com a semente da macadâmia é possível produzir manteiga, pé de moleque, óleo, pães, sorvetes, biscoitos e bolos, além de xampus e sabonetes.
A expectativa para este ano é que a produção brasileira deve crescer entre 8% e 10% em relação ao ano anterior quando a safra foi de seis mil toneladas da noz. Cerca da metade da produção nacional é consumida internamente e o restante é exportado, principalmente para os Estados Unidos.
Pioneirismo
Mas nem sempre foi assim. Quem lê os dados acima nem imagina o extenso caminho percorrido pelos produtores de macadâmia ao longo dos mais de 30 anos de trajetória do cultivo da planta no Estado. Ezio Sena de Oliveira, engenheiro agrônomo e produtor rural, é um dos principais personagens dessa história. Ele foi o responsável técnico pelos primeiros plantios de macadâmia no Espírito Santo, onde o cultivo foi difundido pela Vale Verde Agroindustrial S/A (Vaversa), empresa agrícola que na época recebeu incentivos fiscais para introdução da cultura.
“Meu envolvimento com a macadâmia vem desde a chegada da cultura no Espírito Santo, em 1984. Trabalhei na Vaversa, pioneira do cultivo no Espírito Santo. Naquela ocasião recebemos sementes vindas da cidade de Poços de Caldas, no estado de Minas Gerais, e começamos desenvolver um viveiro para produção das primeiras mudas”, conta Ezio.
O engenheiro agrônomo lembra que inicialmente foram feitos porta enxertos e estes foram levados para o município de Taperoá, na Bahia, distante 800 km de São Mateus, onde existia uma empresa Havaiana que desenvolvia o cultivo da macadâmia. Essa empresa fez os enxertos que posteriormente foram reconduzidos ao plantio definitivo.
“Naquela época não tínhamos nenhum domínio da cultura, mas éramos encorajados pelas notícias mercadológicas da noz, e que também o Havaí, país tropical assim como o Brasil, estava deixando de cultivar mamão papaya e investindo na macadâmia”, recorda Sena.
Ezio relata ainda que muitos não conseguiram levar adiante a produção, justamente por falta de informação. “Muitos desistiram por falta de conhecimento, não tinham referência nenhuma da cultura, por isso abandonaram as plantações”, salienta.
Se por um lado faltava conhecimento do outro faltava tecnologia no mercado capaz de atender as demandas de produção. Para sanar mais esse desafio alguns produtores foram até à Austrália, país originário da macadâmia, em busca de equipamentos. “Trouxemos a primeira máquina para despolpar o fruto da Austrália em 1999, para processar a primeira safra de macadâmia do Estado”, conclui Ezio.
Coopmac comemora 20 anos de olho no futuro
A Coopmac completa 20 anos de sua fundação. Mais que celebrar a marca histórica o que não falta são motivos para comemorar. Os bons resultados ao longo dos anos serviram de incentivo para tomada de decisões que garantiram melhorias no plantio e processo de produção, além de melhorar a cada ano em termos de conhecimentos e equipamentos.
Em novembro de 1999, incentivados também pela Vaversa, então detentora de 70% a 80% da produção, nascia a Coopmac, criada com 21 associados, 12 do Espírito Santo e nove do Sul da Bahia. “Até então a produção era processada no Rio de Janeiro e São Paulo, e o preço praticado era decepcionante, muito ao contrário que as expectativas, o que desanimava os produtores”, lembra Ezio. Atualmente 70% dos produtores que participaram da criação da cooperativa continuam associados.
Instalada em São Mateus, a cooperativa é responsável pelo beneficiamento e comercialização da produção dos 25 associados do Estado e da Bahia, aproximadamente duas mil toneladas de macadâmia por ano. O presidente da Coopmac, Eliseu Bonomo, diz que a cooperativa favorece e possibilita o processo, beneficiamento e comercialização do produto, por isso a importância de estar em grupo.
“Criamos uma estrutura de equipamentos, cada um entrou com uma cota e montamos o negócio. Dividindo fica mais fácil. A cooperativa é de extrema importância para o cooperado e produtor de noz da macadâmia”, enfatiza o presidente.
Para Italo a cooperativa é a melhor opção de venda de macadâmia na região. “Por meio da cooperativa temos possibilidade de negociar com compradores no exterior, vender o produto beneficiado e com maior valor agregado. A cooperativa é nossa melhor opção de venda”, conclui.Ezio é enfático quando o assunto é a importância da Cooperativa. “Arrisco dizer que se a Coopmac não existisse a cultura não teria se desenvolvido no Espírito Santo”. Sena lembra que foi por meio da cooperativa que conseguiram abrir mercado. “Se não tivéssemos nos organizado e formado a cooperativa a macadâmia capixaba não teria resistido. Foi por meio da Coopmac que conseguimos abrir mercado, conseguimos compradores e negociamos preço”, ressalta o agrônomo.
Nas palavras do presidente da cooperativa, Eliseu Bonomo, os pilares fundamentais do grupo Coopmac são: por parte dos produtores: produtividade, qualidade e persistência. Da cooperativa: eficiência no processamento e comercialização segura.
Para garantir assistência técnica e atualização dos cooperados a Coopmac mantém constantemente os serviços de uma consultoria especializada na produção de macadâmia. Duas vezes ao ano os profissionais visitam as plantações e auxiliam os produtores no manejo da cultura. Além de trazer as novidades de tudo que acontece mundo a fora com a produção da noz.
Cultivo de macadâmia
Rica em ômega três, ácidos graxos e antioxidantes que podem retardar o envelhecimento, a noz de macadâmia é adequada ao produtor que pensa em investimento de longo prazo. Ezio diz que “é uma atividade que exige conhecimento técnico de maturação de longo prazo, porém apresenta-se como uma boa alternativa agrícola para região”.
Os interessados em iniciar o plantio da cultura, porém, devem ter atenção. Segundo Bonomo, a muda de macadâmia demora cerca de dois anos para ficar pronta para plantio e a produção começa entre quatro a cinco anos após o plantio. A árvore chega à idade adulta e de maior produção a partir de 12 anos. A produtividade média é de três a cinco toneladas por hectare. Em um hectare é possível plantar 250 árvores, que podem produzir até cinco toneladas de noz.
“Um pomar bem cuidado chega a produzir até 20 quilos da fruta por planta. A árvore resiste à seca, mas a produtividade cai muito quando falta água, já que para o processo de floração e crescimento dos frutos a água é muito importante”, explica Eliseu.
Outro ponto positivo para o cultivo é a possibilidade de fazer o plantio em consórcio com outras culturas como o café e o mamão, por exemplo. (Matéria publicada na 78ª edição da Revista Procampo)